Embora o termo “modismo” tenha imediata associação com o universo estilístico e da moda confeccionista, sua aplicação conceitual é para além dos desfiles, passarelas, vitrines e desejos dos guarda-roupas femininos. O entendimento generalizado e a dinâmica do termo pressupõem que o indivíduo é influenciado pela apelação midiática, cultural e social através de correntes principais e comportamentais do momento como o de fazer e falar igual a todos na ocasião; demonstrando-se pelo uso das mesmas roupas, mesmo corte de cabelo, mesmas expressões de linguagem; objetivando com isso a aceitação e integração deste ao meio fomentador da nova tendência.
No meio evangélico o termo modismo tem um sentido objetivo de desvio doutrinário por não ser fundamentado na bíblia, ter levantes históricos controversos e apresentação teológica inconsistente para a vida da igreja. A prática modista descortinou propósitos de conveniência e táticas proselitistas entre os seus principais atores de proclamação. Enquanto alguns “movimentos” desenvolvem e espalham suas invenções e inovações quase sempre caracterizadas por exageros e tentativas da representação física e palpável do sagrado; os tradicionais sustentam uma posição restritiva a tais manifestações, exatamente por preservarem seu padrão litúrgico e doutrinário inalterados, e que tal firmamento em dogmas da tradição por si mesmo se constitui como oposição aos modismos.
Este artigo deve ser lido e entendido apenas como expressão de minha posição e não como afronta aos proponentes e defensores de tais variações modistas. Também sei que não serão todos os pentecostais clássicos (membros de igrejas pentecostais originadas da chamada primeira onda entre 1910 a 1950) que a princípio concordarão comigo quanto à existência de modismos extrapolados no nosso meio (afinal também sou assembleiano). Saliento que os relatos históricos dos primórdios pentecostais no Brasil apresentam experiências que estão em perfeita consonância com as mencionados nas Escrituras tais como o batismo com o Espírito Santo, o falar em línguas, dons espirituais e cura divina (At 2.4; 8. 17; 19.6; 1 Co 14.5).
A questão é que mesmo que “a ala do pentecostalismo clássico” não aprove os exageros das experiências emotivas, confusão litúrgica e homilia extra-bíblica que compõe os “modismos” praticados na atualidade em nossas denominações; temos de admitir que fomos influenciados por ondas e modas “renovacionistas” que nos distanciaram de nossas origens, identidade e comportamento histórico. O motivo óbvio para tal declaração é que fomos dando cada vez mais ênfase às experiências como afirmações doutrinárias através da prática de campanhas, revelações, unções especiais e outras agregações de cunho heterodoxas.
Este é o parágrafo mais polêmico do artigo, pois modismos quando levados á luz da Palavra de Deus são revelados como suposta autoridade espiritual com conotações de experiências pessoais distantes do Novo Testamento como, por exemplo, unção do riso, da imitação de animais, de cair no espírito, de obturações de ouro, de perda de peso e etc. Pretensa materialização de poder triunfalista através de consagração de objetos móveis ou naturais como chaves, carnês de contribuição, lenços, rosas, água e etc. Engodos de restauração por meio de sessões de descarrego, quebra de maldições, regressão, mapeamento genealógico, anulação negativa do poder do nome que a pessoa recebeu e etc. Disparates de contexto bíblico e cultural por intermédio da importação de símbolos e emblemas do templo e culto dos israelitas; por querer assimilar funções do serviço levítico e sacerdotal do A.T ao ministério da música e do pastorado cristão do N.T e etc.
Quem dera se os pontos críticos dos “modismos liturgizados e espiritualizados” fossem apenas um descontrolado ápice emocional ou uma explosão do extravasar sentimental praticado por membros das igrejas que assumem tais costumes. A incoerência maior é que estas tendências estabelecem crenças infundadas através de seu teologismo destorcido. Comprometem e corrompem a relação do crente com Deus desenvolvendo uma condução menos bíblica e mais emotiva da vida cristã. Estabelecem “novos e invertidos valores” da mordomia bíblica; elevam a autoridade do “dom de revelação” à própria inspiração das Escrituras, dando ênfase mais a essas “revelações pessoalmente dirigidas” do que aquelas eternamente comunicadas através da Bíblia para a vida comum da Igreja de Cristo na terra. Modismos geram manias e às vezes desenvolvem fobias naqueles que não os aderem.
Finalizo observando que as inovações neopentecostalizadas não resolveram o problema do protestantismo norte americano e certamente sua importação para o nosso país menos bem tem feito a igreja evangélica brasileira. O sentimento desta última hora não é por novidades e despertamentos infundados, percebemos uma igreja inchada em seu “ego autoritário” (Ap 3.7) e vazia da autoridade do Espírito; composta por crentes que se acham ungidos para amaldiçoar e declarar coisas que nem medem as conseqüências se fossem realizadas. É tempo de voltarmos (Ap 2.4-5) à prática do simples Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo!
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